A GENESE DAS CRIAÇÕES
Não houve algo que se poderia considerar ‘’o começo’’.
Nada próximo ao que a logica de hoje considera como o
‘’início de algo’’
Mas, são nessas circunstancias alienígenas à nossa lógica
que a singularidade, ou seja, o ‘’início’’, começou de fato.
Pode-se dizer que Um ser começou essa faixa de
realidade, ainda que sua existência seja um mistério, ou talvez seja algo
tão incompreensível para as mentes dos que nessa faixa de realidade habitam que
este ‘’mistério’’ jamais seria plenamente compreendido. Da mesma forma que um
pintor mestre produz um quadro magnifico e sublime, o pintor é algo muito
diferente de sua pintura, e sua pintura, por mais bela que seja, é limitada a
tintas, cheiros, impressões, mas nada disso lhe dará senciência necessária para
compreender quem o criou.
Este ‘’pintor’’, ou escultor da realidade, apesar de
indiscutivelmente complexo, ainda assim respeita certas ‘’regras criativas’’, ainda
que tenha plena liberdade em alterar e manipular alguns detalhes, temos que do
tinteiro criativo é de onde vem sua fonte de criação, matéria, gravidade, lei
do retorno e várias outras particularidades inerentes (e atualmente incompreensíveis
em sua totalidade) a uma singularidade.
O artista, responsável pela faixa de realidade que tecem
maravilhosamente as teias complexas dos mundos a serem vivenciados por ‘’consciências
particularizadas’(que somos nós) se ausentou antes do termino de sua obra
(aparentemente), as consequências disso são sentidas nos tempos de hoje, onde
essas narrativas tomam forma.
Peço perdão à consciência particular que está a ler essas
estranhas concepções daquilo que temos como O Arquiteto de uma realidade, em que
decidimos nos manifestar enquanto consciências livres e
particularizadas, mas neste primeiro momento não há bagagem cognitiva disponível
em nossa realidade para descrever o ‘’inicio’’ de maneira coesa e compreensível,
sou capaz de teorizar, mas não posso afirmar como verdade absoluta.
Porém, a singularidade aconteceu, e isso é inegável, estamos
aqui, eu e você, e sempre que se pensa muito sobre isso as coisas começam a
ficar meio confusas, a existência e a noção de se ver existindo enquanto consciência
presa a um corpo de carne começa a se tornar doloroso e confuso, por vezes
agonizante, mas felizmente achamos no caos uma maneira de nos organizamos, uma
maneira de vivenciarmos experiencias, de conceber as maiores alegrias possíveis
ou descer ao mais baixo abismo mental de dor e sofrimento que um ser conseguiria
experimentar.
Mas o que existia antes dessa singularidade? O que nossas
consciências pensavam antes de se tornarem particularizadas, ou seja,
minimamente únicas? Estávamos todos em um mesmo lugar? Pouco se sabe, ou mesmo
‘’poucos sabem’’, tentarei com as analogias que a nossas consciências
compreendem expor uma hipótese.
A
HIPOTESE DO TINTEIRO
Não parece correto determinar que nossas consciências tenham
vindo de ‘’algum lugar’’ mas sim de ‘’alguma coisa’’, e essa coisa seria uma
resultante de tudo que existiu, existe e existirá.
Imaginemos que todas as possibilidades, concebidas por
mentes particularizadas ou não, estejam todas concentradas em um ''Tinteiro’’,
imaginemos que o liquido desse tinteiro contem todos os universos possíveis, o
tinteiro é o todo, olhe a sua volta, tudo aquilo que seus olhos observam como
coisas ‘’reais’’ ou mesmo possibilidade de se tornarem ‘’coisas reais’’ já PRE
existiam dentro desse tinteiro, e estava (ou está) lá dentro.
Mas e nossas consciências particularizadas? O que é
isso?
Assumindo que tudo
que se pode vir a existir já está dentro de um ‘’Tinteiro’’, nossas
consciências, ou seja, quando você se olha no espelho e vê seu reflexo, isso
também estava no tinteiro, todas as células que formam seu corpo estavam lá,
como possibilidades, incluindo o seu ‘’EU’’. Por tanto, todas as consciências
que vagam pelas criações são na verdade Fractais de um todo, ou
seja, uma parcela de tudo que existe.
Esse Fractal, como já estava dentro do tinteiro (o todo)
nada tem a congregar, uma vez que ele está no todo ele sabe o todo, ele sente o
todo, ele não precisa descobrir nada, tudo está em sua volta na mais tranquila
harmonia, mas quando ele se ‘’desprende’’ desse todo e se assume como ‘’um
ser’’, ele se desconecta com tudo o que existe, e passa a experimentar a
existência de maneira limitada, uma vez que ‘’perdeu’’ a conexão com tudo que
existia, existe e existirá.
Essa consciência fractalizada do todo pode agora
‘’experimentar’’ (talvez novamente) todas as possibilidades que estão
disponíveis a serem ‘’descobertas’’ dentro do tinteiro.
É como se um livro escrito decidisse se apagar por inteiro
somente para ser escrito novamente, por conta própria, onde sua limitação seria
a quantidade de palavras que suas paginas comportam, e essas palavras estão
disponíveis no tinteiro.
Mas isso é apenas a primeira etapa de um desdobramento muito
mais complexo que tem como resultante as realidades de que nos experimentamos.
SE O TODO
É O TINTEIRO, QUEM É O PINCEL?
Todas as consciências que se fractalizaram da fonte (o
tinteiro) são, de certo modo, Pincéis. Por tanto, dentro da nossa analogia do
tinteiro, um ser que antes estava em harmonia com o todo (sabia de tudo) decide
se fractalizar até um estágio básico de consciência, onde houve limitação no
seu entendimento e compreensão (deixou de saber as possibilidades) e ele agora
atua como coautor da obra cósmica que se desenrola no ato de escrever a
realidade usando como fonte a tinta do tinteiro.
Por tanto, podemos conceber que o Um ser que primeiro
elaborou e arquitetou a faixa de realidade que vivemos, que é baseada em
átomos, gravidade e mais uma série de leis, foi um desses pincéis que
desenharam a singularidade que vivemos. Esse ser é o único? NÃO. Ele é apenas o
responsável por, utilizando da analogia do tinteiro, organizar as informações
que lá estavam contidas de maneira que algo se formou, e esse algo nos chamamos
de ‘’Universo’’, o nosso universo. Basicamente, essa é a gênese de toda e
qualquer criação possível.
Vários ‘’Pincéis’’ estão criando e redescobrindo seus
universos, porém, apenas este em que estamos inseridos possui níveis de
complexidade nunca antes vistos em nenhuma outra criação, e ao mesmo tempo que
essa informação seja promissora, é também aterrorizante, pois, você que está
lendo por acaso ousa inferir qual será o resultado disso aqui no fim?
O arquiteto que organizou as peças que formam nossa
realidade não congrega com sua obra, é indiferente a ela, por tanto, talvez
você se pergunte, ‘’E nós? Não somos também Pincéis?’’
Sim e não. Somos também fractais desse todo, mas da mesma
forma que um artista cativa seu publico com uma bela canção num púlpito, o que
seria desse menestrel sem a plateia?
Assumindo que o organizador desse universo seja um
menestrel, nós somos seu público, somos consciências particularizadas do todo,
completamente ignorantes do TODO que sabíamos, e aqui estamos experimentando
(ou reexperimentando) sensações e emoções, alegrias e tristezas, criando e
destruindo, manufaturando artefatos magníficos que tanto nos edificam como nos aniquilam.
MAS POR
QUAL MOTIVO?
Talvez nunca vamos responder essa pergunta de maneira
satisfatória, existem teorias que indicam que consciências conseguem se
sofisticar, no decorrer de múltiplas existências (reencarnação), ao ponto de
também terem o direito de se ‘’tornarem pincéis’’ na conjuntura do universo, e
a partir de suas experiencias particulares, desenvolverem suas próprias faixas
de realidades, onde novos universos serão criados e explorados.
Mas por quê disso? Qual a finalidade?
Não há resposta. Nunca haverá.
Não uma resposta lógica, do tipo, ‘’eu estou amarrando as
cordas da minha bota para que ela fique firme aos meus pés’’, não é assim que
justificaríamos a existência, basta continuar seguinte o argumento;
‘’Somos separados do
todo, nos tornando simples e ignorantes e completamente alheios ao todo que já
tínhamos a nossa disposição num momento anterior à separação, depois disso nós
agregamos nossas consciências particularizadas em constructos (corpos) que podem
assumir as mais variadas formas (dependendo das estruturas químicas
disponíveis) para vivenciar sensações criadas em faixas de realidades propostas
por outros seres que também se separaram do todo e, através dessas sensações
vamos encorpando e sofisticando nossa consciência particularizada para depois
sermos então capazes de, através da nossa própria vontade (a chamada Kundalini,
energia que permeia os chakras), criamos nossas próprias faixas de realidade
para que outras consciências possam passar pelo mesmo processo de maturação
existencial que um dia nós fomos submetidos’’
E depois disso vem o que? Voltaremos para a fonte de onde
estávamos originalmente? Onde sabíamos de tudo, sentíamos tudo e não havia
novidade alguma em nosso ‘’dia a dia’’? Ou existe um propósito maior
incompreensível para o nosso atual estágio?
Não há nenhuma resposta satisfatória até o momento.
Muitos dizem que somos amados por seres de infinita
grandeza, uns dizem que somos amparados pelo alto, mas o que se verifica de
fato é que, diante das vicissitudes da vida a perspectiva de que estamos
sozinhos, soltos num parque de diversões cósmico se parece a menos presunçosa
(porém completamente aterrorizante) do que a crença de que existem seres que
são responsáveis pelo nosso crescimento enquanto consciência particular.
Ou então, devemos assumir que o criador desse universo tem
predileção pelas criaturas que aqui habitam, pois nós, no calor e conforto dos
nossos lares, somos poupados do sofrimento que QUALQUER outro ser não
civilizado está submetido.
Isso é amor?
Podemos torpemente crer que um pai que caça um veado para
alimentar sua família está fazendo um bom trabalho como provedor, seus
semelhantes não morrerão de fome. Mas e quanto a presa? Se um caçador não tomar
o devido cuidado (e isso raramente é observado, uma vez que a caça é o recurso
dos famintos) ele pode acabar abatendo um veado que tem prole, e se essa prole
ainda estiver no espectro de fragilidade existencial (que é inerente em todos
os seres que passam pelo processo de nascimento) e toda a ninhada morrer, seja
por outros predadores, seja por outra circunstancia, não vemos a mão do
arquiteto interferindo, nem como justo nem como algoz.
É certo dizer que o criador foi justo? Foi imparcial? Não,
para ser justo, ambos os seres deveriam gozar de igualdade existencial o que
não é observado, sua imparcialidade é questionável, uma vez que nunca se viu
esse ser (o criador) atuar de maneira direta em sua criação. Podemos presumir
que Ele não se importa com o sofrimento de veados, mas se extrapolarmos o
exemplo da caça para todas as pelejas que todos os seres vivos passam no
decorrer de suas existências, não vemos a mão acalentadora desse Ser em nenhum
lugar. Homens de fé presumem ser uma mão invisível, que age nas sombras. Ora,
mais injusto ainda, como crer que tal ser que claramente tem predileção por
alguns poucos escolhidos, e os ajudam na surdina, debaixo dos panos, e diante
dos outros ultrages existenciais, tais como, ser comido, despido, vilipendiado,
digerido, Ele pouco se importa e nada faz em auxilio. E ainda por cima conviver
com a incerteza de que ele pode ou não te ajudar.
É um pensamento indigno confiar a graça e o sagrado a um ser
que não se faz presente, é indigno dar a esse ser o sentido de nossas vidas, é
como se alguém certo dia dissesse ‘’Eu vivo por esse pedaço de papel velho,
rabiscado e ilegível’’, e sim, O arquiteto tem a mesma importância que um papel
velho, rabiscado e ilegível, pois ele é mais antigo que todos nós e é
incompreensível e caótico(quando o observamos na condição de Suas criaturas).
UM SER
O ‘’Pincel’’ responsável por essa realidade não quer nossa
vassalagem, num sentido amplo, que diferença faz para você se os feijões que
você cozinha lhe consideram um Deus todo poderoso, nenhuma. Da mesma forma, o
ser que usou a tinta criadora para tecer toda essa complexidade a nossa frente,
pouco se importa com a nossa saciedade ou nosso estado de espirito, somos
apenas consequências de sua vontade de criar e ele apenas o fez porque ele
podia faze-lo (creio que tudo que foi, é e será criado, por mais que inventemos
várias necessidades, basicamente criamos pelo simples fato de que é possível
criar ‘’algo’’ , qualquer função que damos às nossas criações, antes de criar
ou postumamente, geralmente são versáteis e variáveis, mas no fim das contas,
não conseguimos criar algo que é incriável, não conseguimos conceber uma cor
que não existe, e por aí vai.), cabe a nós, as criaturas que aqui congregam,
dar sentido e seguimento à realidade em que estamos inseridos.
Não se deve adjetivar com nossa pretensa moral as qualidade
ou defeitos desse Ser, tampouco se preocupar se estamos lhe agradando ou lhe
ofendendo, uma vez que esse ser ou é alheio a própria criação ou participa dela
como um mero espectador, sem sentimentos, sem desejos, desprovido de tudo que
daqui, na nossa pequenez existencial, damos muita importância.
Mas então como se portar diante Dele? O que pensar sobre Ele?
Que diferença Ele faz?
Indiferença, nada, nenhuma.
Pois se não fosse em sua criação, nossas consciências certamente
se manifestariam em outras criações, inimagináveis, inconcebíveis, uma vez que
estamos presos a essa faixa de realidade (momentaneamente). Portanto estaríamos
a vivenciar as mais diversificadas aventuras cósmicas possíveis, podemos inferir
que essa é uma perspectiva futura bem plausível, inclusive.
Não se pode afirmar, voltando a hipótese do tinteiro,
quantas consciências particularizadas são capazes de tecer realidades, quantas
são capazes de apenas vivencia-las, não se pode dizer nem que existe apenas um
tinteiro, podem ser infinitos, apenas um, não estamos prontos para afirmar
nenhuma dessas possibilidades, não com o constructo de carne que nossas
consciências animam. O único argumento factual que temos em mãos é;
‘’Existimos, nos organizamos e morremos.’’
O resto é especulação, a própria continuação da consciência
(agora encarnada) é uma possibilidade, talvez o nosso ‘’verdadeiro eu’’ seja
tão destoante da realidade em que estamos inseridos que a perspectiva de FIM
seja um fato, sua consciência habita um corpo de carne que se comporta de tal
maneira, quando da sua morte essa mesma consciência se liberta das travas que
foi imposta pela carne e se descobre algo completamente diferente daquilo que
foi forçado a experimentar, e diante disso, morrer talvez seja mesmo o FIM, o
SEU FIM, não o fim da sua consciência particularizada que permeia o cosmos
sabe-se lá ha quanto tempo, sabe-se lá por quanto tempo, sabe-se lá por quantas
vezes ela já fez isso (existe a possibilidade de universos cíclicos).